23 setembro 2025 - 09:18
Conselhos Calmantos em Tempos de Guerra

Ensinamentos religiosos oferecem estratégias importantes para gerir o medo. A confiança em Deus, a visão das dificuldades como provações divinas e a atenção às recompensas da paciência, súplica e intercessão diminuem o medo.

O medo e a ansiedade em tempos de crise são sentimentos naturais; no entanto, se não forem bem geridos, podem causar danos significativos a um indivíduo. Em uma crise como a guerra, não apenas o corpo, mas também a alma e a mente da pessoa estão em perigo, e o impacto psicológico pode ser maior do que os danos físicos.

O medo ou a covardia tem duas naturezas: uma repreensível e outra louvável. A parte louvável é um medo racional, enquanto a repreensível denota fraqueza e lassidão da alma. Algumas pessoas, em certas situações, manifestam medos indevidos e irracionais, e o sinal disso é que, diante de eventos e calamidades, elas se consideram incapazes e impotentes, indo em direção à humilhação e à vileza. Tais pessoas, devido ao seu medo irracional, evitam empreender grandes tarefas, seus corações estão perpetuamente ansiosos e tremem, e estão sempre aterrorizados pelos acontecimentos do mundo. Portanto, o medo que surge da fraqueza da alma é censurável e um vício moral. No entanto, o medo que tem uma origem racional — como o temor a Deus devido a pecados e transgressões — não é repreensível, mas sim uma virtude moral e um dos pilares da adoração. O medo da guerra é parte do instinto de sobrevivência que Deus colocou em nós, e reprimir esse medo certamente não o eliminará; em vez disso, esse tipo de medo precisa ser gerido para que não se transforme em um medo repreensível.


Confiança em Deus (Tawakkul)

O que o ser humano precisa no coração de uma crise é o espírito de fé, e uma das manifestações mais importantes que comprovam a fé é a confiança em Deus. O Alcorão diz: "E para quem confia em Deus, Ele é o suficiente."¹

Em tempos de guerra, recorrer à confiança e entregar a gestão dos assuntos a Deus é uma das formas mais importantes de encontrar a paz. Não apenas nós devemos confiar em Deus, mas também devemos encorajar aqueles ao nosso redor a fazerem o mesmo. Através da confiança, uma pessoa chega à verdade de que o universo não está desprovido de um dono, e que o Criador do universo Se encarregará de preservá-lo. Conforme o Alcorão, quando a notícia da guerra chegou, os crentes disseram:

"Deus é suficiente para nós, e Ele é o melhor Apoiador." Estes foram aqueles a quem (algumas) pessoas disseram: 'As pessoas [o exército inimigo] se reuniram para vos atacar; temei-os!' Mas isso apenas aumentou a sua fé, e eles disseram: 'Deus é suficiente para nós; e Ele é o melhor Guardião'."²


Provação e Tribulação

Outra forma eficaz de eliminar o medo da guerra é focar no princípio da provação e tribulação divinas. Dificuldades e calamidades são uma parte inseparável da vida humana, e no coração de cada sofrimento reside uma sabedoria e um benefício que, se ignorados, podem levar à ansiedade. No entanto, se uma pessoa vê as crises através da lente da provação divina, será mais fácil suportá-las, e seu medo diminuirá. O Alcorão diz:

"Pode ser que detesteis algo, e isso seja um bem para vós; e pode ser que ameis algo, e isso seja um mal para vós. E Deus sabe, e vós não sabeis."³


Focar nas Recompensas

Um dos fatores que podem diminuir o medo e aumentar a paz é focar nas recompensas das dificuldades. Embora a guerra seja difícil, certamente traz benefícios e frutos para as sociedades e nações. As nações resilientes ao longo da história foram as verdadeiras vencedoras e, através da sua resistência, garantiram a sua felicidade neste mundo e no outro. Como Deus diz em Sua palavra:

"Então, por certo, com a dificuldade virá a facilidade."⁴

E em outro versículo, Deus deu boas novas aos que têm paciência:

"E por certo que vos provaremos com algo de medo, fome, e perda de bens, de vidas e de frutos; e dá as boas novas aos que têm constância!"⁵

Na Surata Az-Zumar, está escrito:

"Aqueles que têm paciência receberão a sua recompensa sem medida!"⁶

A expressão "sem medida" mostra que os perseverantes recebem a maior recompensa na presença de Deus, e a importância de nenhuma outra ação se compara à da paciência e da perseverança.


Súplica e Intercessão

Outra forma de diminuir o medo é recorrer a atos espirituais como a súplica e a intercessão. Encorajar aqueles que temem a guerra a suplicar e a recorrer a Deus pode diminuir seu medo e ansiedade. O Alcorão corrobora o papel da espiritualidade na criação da paz:

"Aqueles que creem e cujos corações encontram paz na lembrança de Deus. Acaso, não é na lembrança de Deus que os corações encontram paz?"⁷

Em tempos de guerra, o Líder Supremo recomendou a leitura da Surata Al-Fath, a súplica 14 de Sahifa Sajjadiyya e a oração de Tawassul para o sucesso da frente de resistência.


Rumores

Os rumores são um dos fatores mais importantes que afetam diretamente o medo das pessoas. Evitar ouvir rumores e seguir notícias falsas é uma das soluções práticas para este problema. Hoje em dia, as mídias sociais facilmente fornecem uma plataforma para notícias falsas ou fake news, e se uma pessoa, no meio de uma crise, não prestar atenção ao que consome intelectualmente e receber notícias de qualquer fonte, ela ficará naturalmente mais ansiosa. Em tempos de guerra, é nosso dever evitar ouvir rumores e dissuadir os outros de cometer este erro.


Fortalecer o Convívio Social

Estar juntos diminui o sofrimento. Fortalecer as relações familiares e a participação em atividades de grupo e sociais podem reduzir a dureza da guerra e fazer com que o medo seja esquecido. O convite do Alcorão à unidade e a evitar o individualismo corrobora este ponto, onde Ele diz:

"E agarrai-vos todos à corda de Deus [o Alcorão e a Família do Profeta (que a paz esteja com eles)] e não vos separeis."⁸


Confiar na Ajuda Divina

A história do Islã está repleta de exemplos em que os exércitos da verdade, apesar de serem em menor número, foram vitoriosos porque foram agraciados com ajuda divina. Deus prometeu ajudar os crentes, e focar nessa ajuda pode ser eficaz para eliminar o medo. O Alcorão diz:

"Ó vós que credes! Se ajudardes (a causa de) Deus, Ele vos ajudará e firmará vossos passos."⁹


Empatia

Cada um de nós, em qualquer posição que ocupe, seja pai, mãe, cidadão, vizinho, amigo, etc., deve permitir que os outros falem de seus medos com calma e ouvi-los sem criticar. A empatia pode ajudar a gerir o medo, enquanto reprimir o medo aumenta a ansiedade interna. Uma vez que as crianças imitam os seus pais, é necessário que estes pratiquem mais empatia e, controlando e gerindo o seu próprio medo, transmitam paz aos seus filhos e àqueles ao seu redor.


O Dever de Esclarecimento

É nosso dever explicar as circunstâncias da guerra, a filosofia de lutar, as razões e os objetivos da defesa sagrada, e também descrever os componentes da consciência e do reconhecimento do inimigo para as pessoas. Através da conscientização, podemos mitigar o medo nos outros. A conexão da resistência com a questão da vinda do Salvador e o estabelecimento da justiça no mundo e a conquista da paz duradoura não deve ser ignorada neste processo.


Conclusão

O medo e a ansiedade em tempos de crise são naturais, mas se não forem bem geridos, transformam-se em um medo censurável. A fé em Deus e a confiança n'Ele podem diminuir o medo. Em tempos de guerra, é necessário fortalecer a nossa confiança e convidar os outros a fazerem o mesmo. Ver as dificuldades através da lente da provação divina e focar nas recompensas da paciência e da perseverança também ajuda a diminuir o medo e a aumentar a resiliência. Outras coisas que podem trazer paz aos corações são a súplica e a intercessão; as pessoas que se dedicam à súplica e à lembrança de Deus sentem mais paz. Evitar rumores e notícias falsas que causam ansiedade, e fortalecer o convívio social e as relações sociais para a resiliência coletiva, são outras soluções práticas. Apontar para as pessoas a ajuda divina e as promessas de Deus de ajudar os crentes também é eficaz para criar esperança e eliminar o medo. Além disso, a empatia mútua, ouvir as preocupações dos outros sem os criticar, e o dever de esclarecer a filosofia e os objetivos da resistência, contribuem imensamente para mitigar o medo e fortalecer a perspicácia.


Notas de Rodapé:

  1. Talq, versículo 3
  2. Al Imran, versículo 173
  3. Baqarah, versículo 216
  4. Sharh, versículo 5
  5. Baqarah, versículo 155
  6. Zumar, versículo 10
  7. Ra'd, versículo 28
  8. Al Imran, versículo 103
  9. Muhammad, versículo 7

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